Nas últimas semanas temos assistido a uma crescente desconfiança em relação ao governo e, particularmente, ao Primeiro-Ministro. O que parecia ser um pequeno detalhe – o Primeiro-Ministro envolvido em negócios privados enquanto governava o país – transformou-se numa novela política.
Ninguém sabia que o Primeiro-Ministro era empresário. Nem ele achou relevante mencionar. Mas uma vez revelada a informação, a postura lógica seria convocar uma conferência de imprensa, onde o Primeiro-Ministro apresentaria todos os documentos relevantes, esclareceria as dúvidas e poria fim à especulação. Mas não. A opção foi outra. Foi a de deixar perguntas no ar, permitir que versões se contradissessem e, com isso, alimentar a suspeita.
Primeiro, foi dito que a tal empresa geria ativos da família. Afinal, não era bem isso. Mas também, que importância tem a verdade quando se pode sempre dizer uma coisa hoje e outra amanhã? A empresa passou para a sua mulher, mas, convenhamos, num regime de Comunhão de Adquiridos, continua a ser, no mínimo, “meio dele”. Isto é detalhe, claro. Quem nunca esqueceu de mencionar uma empresa que lhe pertence, que atire a primeira pedra.
As perguntas essenciais não foram respondidas: quem são os clientes da empresa? Qual o valor real dos serviços prestados? Aquilo que o Partido Socialista propôs foi uma conversa, uma explicação. No entanto, o Primeiro-Ministro optou por não responder, criando um vácuo de informações que só gerou mais desconfiança.
E o resultado? Um governo incapaz de governar. Um Primeiro-Ministro que, ao invés de garantir estabilidade, alimenta instabilidade. E, no meio disto tudo, o Partido Socialista a fazer o possível para manter alguma ordem no caos. Mas sejamos claros: o PS não pode ser o avalista de um governo que se recusa a dar explicações.
O PS sempre defendeu a estabilidade e tentou evitar uma crise política desnecessária. No entanto, quando o próprio governo se recusa a esclarecer as dúvidas e, em vez disso, opta por se demitir - porque é isso que faz ao apresentar esta Moção de Confiança com chumbo anunciado-, a responsabilidade pelo rumo do país não pode ser colocada sobre quem sempre procurou soluções. O governo escolheu este caminho. Agora, resta garantir que a democracia funcione e que os portugueses tenham as respostas que merecem.